A fabulosa aventura de todos nós - Octopath e sua simplicidade
Octopath
Traveler é o tipo de jogo que faz você desejar ficar em casa, por dias,
aproveitando da companhia dos oito pequenos personagens representados por
pixels. Seus movimentos em telas que simulam o 2D tradicional em um mundo 3D
(WOW) te chamam para que você permaneça até o final. Contudo, a riqueza do jogo
não apresentou para muitos o equivalente em termos de complexidade da
narrativa, o que parece ter sido uma afronta aos fãs hardcores de JRPGs. A
inovação pela simplicidade passa despercebida por uma chuva de críticas
exigindo o mais do mesmo.
Eu entendo.
Você viu que era um JRPG e que seria lançado pela Square-Enix. Seu coração
entusiasta bateu forte, não é mesmo? Todos sabemos como muitos desses jogos
japoneses fizeram parte de nossas infâncias e tiraram lágrimas de nós, mesmo
quando tentávamos provar nossa -frágil - masculinidade para os amigos. Só o
Paulo de onze anos poderia te contar do desespero de tentar fugir da Evil
Forest, em Final Fantasy IX, e ver Blank ser petrificado.
Coitado do
Blank.
Eu não
entendia bem o que estava acontecendo, pois meu inglês era praticamente nulo
para saber se eles haviam discutido a possível petrificação ou um modo de
salvar o pobre rapaz. Porém, havia o desejo latente de que ele fosse salvo.
Ele usava uma
bandana no rosto cobrindo um de seus olhos e uma espada no ombro. He was
awesome.
Devemos
admitir termos sido mal acostumados. O sentimentalismo exacerbado que assola
muitos desses títulos; as lutas de magnitude astronômica que colocam em risco a
existência do próprio universo; e personagens com histórias complexas e
personalidades fortes que nos levaram a ter questionamentos de ordem
cosmológica. Você pode não perceber, caro entusiasta dos games, mas há uma
crença. Ela perpassa o nosso meio silenciosa. Quando um novo título sai,
consequentemente, toda a expectativa, que mais uma vez poderemos ser
surpreendidos ou que os desenvolvedores deveriam pelo menos ter tentado nos
surpreender, acaba aparecendo.
Octopath
Traveler é uma tentativa de mostrar a beleza das pequenas aventuras, das vidas
simples desses habitantes de terras distantes. Eu comecei o jogo com Therion e,
oh boy, qual foi a minha surpresa quando descobri não poder tirá-lo do grupo
até o final do jogo. A sua história te propõe ir atrás de algumas pedras e
recuperá-las para a herdeira de uma família, após ter sido pego tentando roubar
sua mansão. Missão pouco atrativa inicialmente. Considerei se não havia
começado com o pior personagem ou com a história mais fraca. Eu estava
enganado, pois nenhuma história é mais épica do que a outra.
A estrutura de
quatro capítulos é suficiente para que você tenha um tempo de aventura
considerável e ainda não se sinta entediado de acabar fazendo muito do mesmo.
Therion é um ladrão e ele carrega consigo a habilidade de roubar NPCs.
Ele também
carrega a chance de te deixar frustrado ao tentar roubar itens com 80% de
chance e falhar.
Várias vezes.
Mas isso é um
problema? Não! Apesar disso, é importante que saiba: você não irá salvar o
mundo. O final não é tão épico quanto o caminho percorrido pelo personagem e
como isto o modificado. Algo esperado, acredito eu, de um jogo que a tradução
seria “o viajante de oito caminhos”. Você percorrerá caminhos e a história se
vale por isso. O entusiasta deve ter esperado que, no final, os oito
personagens iriam se juntar para enfrentar o grande mal. De novo. Assim como
deve ter esperado que seus capítulos o levassem a perceber que seus destinos
estavam conectados para se tornarem os grandes salvadores - alô, Final Fantasy
XIII.
Tudo que
o jogo quer te apresentar são as jornadas de cada um. A peregrinação de uma
filha que acaba levando luz para a vida de várias pessoas. Um farmacêutico cuja
missão é curar as pessoas e compensar a bondade de um desconhecido.
Não me entenda
mal. O último capítulo de Therion é muito intenso, por exemplo. Uma cidade
controlada pelo seu inimigo e você tentando compreender o real significado de
confiar em alguém. Se você irá vencer ou perder, dependerá do quão claro
estiver para ti como a confiança te dá forças.
Octopath se
mostra um jogo problemático por causa de outros fatores, como o preço com que
ele chegou à Steam. Entretanto, tentei convencer o entusiasta de que menos não
é mais, assim como não é muito menos também. Uma obra simples carrega a
potencialidade de ser boa exatamente por sua simplicidade. Transformar a vida
comum em uma história que você gostaria de ter vivo não é, em si, uma tarefa
fácil.
Só não estamos
acostumados e não fomos ensinados a ter os olhos aguçados para as belezas do
que é comum.
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